Estudo com quase 400 mil pessoas mostra que a capacidade cardiorrespiratória é mais determinante para a longevidade do que o peso corporal
16/08/2025
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A obesidade tem sido apontada como uma das principais causas de morte precoce no mundo moderno. No entanto, uma revolucionária pesquisa científica acaba de questionar essa premissa, revelando que o verdadeiro vilão pode não ser exatamente o que pensávamos. Um estudo publicado no renomado British Journal of Sports Medicine, que analisou dados de quase 400 mil pessoas, descobriu que a capacidade cardiorrespiratória é um preditor muito mais forte de mortalidade do que o índice de massa corporal (IMC).
A descoberta promete revolucionar a forma como encaramos a saúde e o bem-estar, deslocando o foco da perda de peso para o desenvolvimento da aptidão física. Os resultados são surpreendentes: pessoas obesas, mas com boa forma física, apresentaram riscos de morte similares aos de indivíduos com peso normal e em forma. Por outro lado, pessoas com peso considerado normal, mas fora de forma, mostraram riscos significativamente maiores de morte precoce.
O estudo, liderado por Nathan Weeldreyer da Universidade da Virgínia e publicado em novembro de 2024, representa a maior e mais abrangente análise já realizada sobre a relação entre condicionamento físico e mortalidade. Os pesquisadores conduziram uma revisão sistemática e meta-análise de 20 estudos realizados entre 1980 e 2023, totalizando uma impressionante amostra de 398.716 participantes de múltiplos países.
Uma das grandes inovações desta pesquisa foi a inclusão de 33% de participantes do sexo feminino, representando um aumento de quase três vezes em relação a estudos anteriores, que eram predominantemente masculinos. Essa diversidade de gênero e geográfica torna os resultados muito mais aplicáveis à população global.
A metodologia foi rigorosa: os participantes foram classificados como “em forma” quando seus resultados em testes de esforço (medindo o VO2 máximo) os colocavam acima do percentil 20 dentro de sua faixa etária. Já o IMC foi categorizado nas faixas tradicionais: peso normal (menos de 25 kg/m²), sobrepeso (25-29,9 kg/m²) e obesidade (30 kg/m² ou mais).
Os dados revelaram uma realidade que contraria décadas de foco exclusivo na perda de peso. Indivíduos em boa forma física, independentemente de estarem na categoria de peso normal, sobrepeso ou obesidade, apresentaram riscos estatisticamente similares de morte por todas as causas ou por doenças cardiovasculares.
O cenário se inverte dramaticamente quando analisamos pessoas fora de forma. Os números são alarmantes: indivíduos com peso normal, mas sem condicionamento físico, apresentaram 1,92 vezes mais risco de morte por todas as causas. Entre aqueles com sobrepeso e fora de forma, o risco aumentou 1,82 vezes, enquanto pessoas obesas e sem condicionamento físico tiveram um risco 2,04 vezes maior.
Quando o foco se volta especificamente para doenças cardiovasculares, a diferença se torna ainda mais marcante. Pessoas com peso normal, mas fora de forma, apresentaram 2,04 vezes mais risco de morte cardiovascular. Já indivíduos com sobrepeso e sem condicionamento físico tiveram 2,58 vezes mais risco, enquanto aqueles obesos e fora de forma apresentaram um risco impressionantes 3,35 vezes maior.
Siddhartha Angadi, professor associado de fisiologia do exercício na Universidade da Virgínia e autor correspondente do estudo, foi categórico em suas declarações publicadas no comunicado oficial da pesquisa: “A aptidão física, ao que parece, é muito mais importante do que a gordura quando se trata de risco de mortalidade”.
O pesquisador complementa explicando que pessoas obesas em forma física “tinham um risco de morte similar ao de indivíduos com peso normal em forma e cerca de metade do risco de pessoas com peso normal, mas fora de forma”. Esta descoberta ressignifica completamente o papel do exercício físico, que deixa de ser visto apenas como uma forma de queimar calorias para se tornar “um excelente ‘remédio’ para otimizar a saúde geral”.
Glenn Gaesser, professor da Universidade Estadual do Arizona e coautor do estudo, trouxe uma perspectiva importante sobre os ciclos de perda e ganho de peso. Segundo suas declarações na pesquisa, “ciclos repetitivos de perda e ganho de peso — a dieta ioiô — estão associados a inúmeros riscos à saúde comparáveis aos da própria obesidade”. Ele enfatiza que manter o condicionamento aeróbico em bom nível contribui para uma melhor qualidade de vida e maior proteção contra doenças crônicas.
Os resultados desta pesquisa reforçam o conceito conhecido como “paradoxo da obesidade”, onde indivíduos com IMC elevado, mas com boa capacidade cardiorrespiratória, apresentam melhores prognósticos de saúde do que pessoas com peso normal, mas sedentárias.
Este fenômeno sugere que a distribuição da gordura corporal, a composição muscular e, principalmente, a capacidade do sistema cardiovascular de fornecer oxigênio aos músculos durante a atividade física são fatores muito mais determinantes para a saúde do que simplesmente o número na balança.
A capacidade cardiorrespiratória, medida através do VO2 máximo, reflete a eficiência com que os sistemas cardiovascular e respiratório conseguem fornecer oxigênio aos músculos durante exercícios prolongados. Este indicador se mostrou um preditor muito mais confiável de longevidade do que as medidas tradicionais de peso e IMC.
As descobertas desta pesquisa têm implicações profundas para as estratégias de saúde pública. Atualmente, apenas 20% dos adultos americanos cumprem as diretrizes de atividade física estabelecidas pelo Departamento de Saúde dos Estados Unidos, que recomendam um mínimo de 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa, além de fortalecimento muscular duas vezes por semana.
Para aqueles que se encontram no percentil mais baixo de condicionamento cardiorrespiratório, começar qualquer tipo de exercício aeróbico pode ter um impacto significativo. Como destaca Angadi, “a maior redução no risco de mortalidade por todas as causas e doenças cardiovasculares ocorre quando indivíduos completamente sedentários aumentam modestamente sua atividade física”. Isso pode ser alcançado com atividades simples como caminhada rápida várias vezes por semana, com o objetivo de acumular aproximadamente 30 minutos por dia.
Esta pesquisa sugere que é hora de repensar as abordagens tradicionais de tratamento da obesidade. Em vez de focar exclusivamente em métodos de perda de peso, como dietas restritivas e medicamentos, a atenção deveria se concentrar em exercícios e atividades físicas que melhorem a capacidade cardiorrespiratória.
Os pesquisadores recomendam que seja feita uma avaliação independente do valor de uma abordagem baseada em fitness, em vez de uma abordagem baseada na perda de peso, para otimizar os resultados de saúde em indivíduos obesos. Esta mudança de paradigma pode ser especialmente importante considerando que a maioria das pessoas que perde peso acaba recuperando-o, criando ciclos prejudiciais de ganho e perda de peso.
A mensagem principal desta pesquisa é clara e esperançosa: não é necessário atingir um peso “ideal” para ter uma vida longa e saudável. O foco deve estar no desenvolvimento e manutenção da capacidade cardiorrespiratória através de atividades físicas regulares.
Para quem está começando, o importante é dar o primeiro passo. Atividades como caminhada rápida, natação, ciclismo ou qualquer exercício que acelere os batimentos cardíacos e cause uma leve falta de ar podem ser suficientes para sair da categoria de “fora de forma” e obter benefícios significativos para a saúde.
A pesquisa mostra que alcançar níveis de condicionamento físico acima do percentil 20 dos padrões ajustados por idade já é suficiente para obter reduções significativas no risco de mortalidade. Isso torna o fitness um objetivo de saúde muito mais acessível do que as metas tradicionais de perda de peso, que frequentemente se mostram insustentáveis a longo prazo.
Este estudo revolucionário nos convida a repensar nossa relação com o corpo e a saúde. Em vez de nos fixarmos obsessivamente no número da balança, deveríamos nos concentrar em como nos sentimos, em nossa energia, resistência e capacidade de realizar atividades do dia a dia com vigor.
A aptidão física emerge como um indicador muito mais confiável de saúde do que o peso corporal, oferecendo uma abordagem mais positiva e sustentável para o bem-estar. Afinal, é muito mais motivador e realizável focar em se tornar mais forte, resistente e energético do que simplesmente perseguir um número específico na balança.