Em uma jornada de autoconhecimento, percebi que descansar não é um luxo, mas uma ferramenta essencial para a saúde, a criatividade e uma vida com mais significado.
4/10/2025
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Eu costumava vestir o cansaço como uma medalha de honra. Em uma cultura que aplaude a produtividade incessante, eu via minhas longas jornadas de trabalho e a agenda lotada como um atestado de meu valor e comprometimento. Descansar parecia um luxo inalcançável, um sinônimo de preguiça que eu não podia me permitir. Minhas semanas eram maratonas de tarefas, e os fins de semana, meras extensões do escritório, onde eu tentava adiantar o que não havia conseguido concluir. Acreditava, genuinamente, que estava no caminho certo para o sucesso.
A mudança de rota não foi uma escolha suave, mas uma imposição do meu próprio corpo. O ponto de virada chegou em uma tarde aparentemente comum. Sentada em frente ao computador, percebi que lia o mesmo parágrafo pela décima vez, sem absorver uma única palavra. Minha mente, antes ágil, estava nublada. A criatividade, que sempre fora minha aliada, havia desaparecido. Sinais físicos como dores de cabeça constantes e uma irritabilidade desproporcional se tornaram meus companheiros diários. Meu corpo e minha mente estavam em greve, e eu finalmente entendi que precisava ouvir o que eles tentavam me dizer. Era um pedido de socorro.
Minha jornada para aprender a descansar começou com passos pequenos e, confesso, repletos de culpa. O primeiro grande desafio foi desconstruir a ideia de que eu precisava estar “produzindo” a todo momento para ser valiosa. A sociedade nos ensina que “tempo é dinheiro”, mas raramente nos dizem que tempo também é saúde, paz e bem-estar. Como aponta a jornalista Regiane Cardoso de Oliveira em seu artigo para a Central Psicologia, o descanso adequado não se resume a dormir, mas envolve pausas, relaxamento e momentos para recarregar as energias. Entendi que a privação desses momentos estava me custando caro, resultando em estresse e ansiedade.
Comecei a agendar pausas na minha rotina com a mesma seriedade com que agendava reuniões. Adotei a técnica “Pomodoro”, trabalhando com foco total por 25 minutos e, em seguida, me presenteando com 5 minutos de pausa real, longe das telas. Nesses intervalos, eu olhava pela janela, preparava um chá ou simplesmente fechava os olhos. Descobri o conceito holandês de “Niksen”, a arte de não fazer absolutamente nada, e percebi o poder que existe em permitir que a mente vagueie sem um objetivo definido. Foi revolucionário.
Um artigo do portal Viver Bem, da Unimed, me ajudou a entender que o cérebro possui diferentes redes neurais. Insistir em uma mesma tarefa por horas a fio esgota a “rede executiva”, responsável pelo foco, e o rendimento cai drasticamente. Alternar atividades ou simplesmente parar permite que essa rede se recupere. Os sinais de cansaço que eu sentia — falta de concentração, irritabilidade e perda de memória — eram exatamente os listados como alertas de esgotamento.
Aprofundando minha pesquisa, encontrei o conceito de “descanso verdadeiro”, detalhado por Eric Flor no portal Terra. Ele explica que existem diferentes dimensões do descanso, e todas precisam de atenção. Não se trata apenas do descanso físico, obtido com uma boa noite de sono. Há também o descanso mental, que é silenciar o ruído interno e se afastar do excesso de informações. Existe o descanso emocional, que nos dá espaço para processar sentimentos, e o descanso espiritual, que é a reconexão com nossos valores e nosso propósito de vida.
Essa nova compreensão transformou minha relação com o trabalho e, mais importante, comigo mesma. Aprendi a praticar o descanso ativo: caminhadas na natureza, momentos de silêncio, hobbies que me davam prazer sem a pressão da performance. Percebi que, ao me permitir parar, eu não estava perdendo tempo. Pelo contrário, estava investindo em minha capacidade de ser mais presente, criativa e, ironicamente, mais produtiva de uma forma saudável e sustentável.
Hoje, o descanso não é mais um inimigo a ser evitado, mas um ato de sabedoria e autocuidado. É no silêncio que encontro as melhores ideias. É na pausa que meu corpo se regenera e minha mente se acalma. Valorizar o descanso me ensinou que a verdadeira força não está na agitação constante, mas no equilíbrio. Encontrei a leveza que tanto buscava, não na corrida incessante, mas na beleza da pausa.