Pesquisa sugere que alimentos ultraprocessados, muitos dos quais consumidos logo no café da manhã, podem nos fazer envelhecer mais rapidamente. Produtos aparentemente "inofensivos", como pão embalado, iogurte de frutas e muitos cereais matinais adoçados, também estavam associados a essa aceleração do envelhecimento biológico
7/11/2024
O que você escolheu para o café da manhã hoje? Talvez tenha optado por um café da manhã completo e generoso ou, quem sabe, algo aparentemente saudável como um iogurte com frutas, cereais ou uma torrada. No entanto, uma nova pesquisa sugere que essas escolhas matinais podem estar contribuindo para o envelhecimento precoce.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, realizada pelo IBGE, alimentos ultraprocessados representam cerca de 19,7% da ingestão calórica diária da população brasileira. Esses produtos incluem itens como lanches industrializados, refrigerantes, macarrão instantâneo, refeições prontas e outros alimentos que contêm extensas listas de ingredientes artificiais, como conservantes, emulsificantes, adoçantes e aromatizantes.
Estudos anteriores já conectaram o consumo de alimentos ultraprocessados ao aumento do risco de doenças como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e câncer de intestino. Agora, novas evidências sugerem que esses alimentos também podem acelerar o processo de envelhecimento biológico.
Quando pensamos em envelhecimento, é comum associá-lo à nossa idade cronológica — o número de anos desde o nascimento. Contudo, também existe a chamada idade biológica, que reflete a condição funcional de nossas células e tecidos. Essa idade biológica pode ser influenciada por fatores como alimentação e estilo de vida, e, diferentemente da cronológica, pode ser acelerada ou retardada.
Para entender como a alimentação impacta a idade biológica, pesquisadores do Instituto Científico para Pesquisa, Hospitalização e Saúde (IRCCS) da Itália, em parceria com a Universidade LUM de Casamassima, analisaram dados de mais de 22 mil pessoas. A pesquisa avaliou informações alimentares detalhadas, além de indicadores biológicos presentes no sangue, que revelam a idade biológica dos participantes.
Os resultados mostraram que aqueles que consumiam uma quantidade maior de alimentos ultraprocessados apresentavam, em geral, uma idade biológica mais avançada em relação à sua idade cronológica. Em outras palavras, o alto consumo desses produtos estava relacionado a um envelhecimento biológico acelerado.
“Nossos achados indicam que o consumo frequente de alimentos ultraprocessados não apenas afeta a saúde de forma geral, mas também acelera o envelhecimento biológico”, explicou Simona Esposito, pesquisadora da Unidade de Epidemiologia e Prevenção do IRCCS e principal autora do estudo.
Embora ainda não sejam totalmente compreendidos, os mecanismos que ligam alimentos ultraprocessados ao envelhecimento podem estar relacionados à sua composição. Esses produtos são frequentemente ricos em açúcares, gorduras saturadas ou trans e sal, além de sofrerem processamento industrial intenso, que pode comprometer a qualidade nutricional e a presença de fibras. Segundo Marialaura Bonaccio, epidemiologista nutricional e coautora do estudo, esse processamento afeta funções fisiológicas importantes, como o metabolismo da glicose e a saúde da microbiota intestinal. Além disso, a embalagem plástica de muitos desses alimentos pode introduzir substâncias tóxicas no organismo.
Vale destacar que alimentos ultraprocessados não se limitam a refrigerantes ou embutidos industrializados. Produtos aparentemente inofensivos, como pães embalados, iogurtes de frutas e cereais matinais adoçados, também foram associados à aceleração do envelhecimento biológico.
“Até mesmo alimentos embalados que parecem saudáveis podem se enquadrar na categoria de ultraprocessados”, apontou Licia Iacoviello, diretora da Unidade de Pesquisa de Epidemiologia e Prevenção do IRCCS Neuromed e professora na Universidade LUM. “Esse estudo reforça a importância de revisarmos as recomendações alimentares atuais, considerando também o grau de processamento dos alimentos.”
Fonte:
Newsweek / The American Journal of Clinical Nutrition