Geração Z e Millennials lideram o uso de ansiolíticos e antidepressivos no Brasil, segundo levantamento recente; números evidenciam avanços no cuidado emocional, mas também alertam para o sofrimento psíquico dos jovens
13/06/2025
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O uso de medicamentos psiquiátricos entre os mais jovens disparou no Brasil. Segundo dados revelados pela CNN Brasil em 13 de junho de 2025, o consumo de antidepressivos e ansiolíticos aumentou de 6,6% a 7,9% em 2024 entre pessoas das chamadas Geração Z (1997–2012) e Millennials (1982–1996). Os números refletem um fenômeno de múltiplas camadas: uma juventude mais consciente sobre saúde mental, porém mergulhada em um cenário de pressões inéditas.
Ao contrário de gerações anteriores, que muitas vezes evitavam tratar ou mesmo nomear suas dores psíquicas, os jovens de hoje buscam diagnósticos, ajuda terapêutica e, quando necessário, suporte farmacológico. Isso é, em parte, uma boa notícia. Significa que o estigma sobre doenças mentais está diminuindo — uma vitória da informação, das redes de apoio e da atuação profissional da psicologia e da psiquiatria.
Porém, o cenário também revela uma epidemia silenciosa de sofrimento emocional. A pergunta que se impõe é: o que está adoecendo tanto os jovens?
Viver conectado 24h por dia traz oportunidades, mas também um bombardeio constante de estímulos. As redes sociais, apesar de proporcionarem contato e entretenimento, se tornaram fonte de comparação constante, medo de ficar para trás (o chamado FOMO — fear of missing out) e validação externa.
Além disso, o mercado de trabalho mudou profundamente. Muitos jovens enfrentam insegurança profissional, empregos instáveis, jornadas exaustivas e salários baixos, o que contribui para um sentimento de frustração crônica. O perfeccionismo alimentado por padrões inalcançáveis também colabora para quadros como ansiedade generalizada, burnout e depressão.
Não por acaso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já classificava os transtornos mentais como uma das principais causas de afastamento laboral antes mesmo da pandemia. Em 2023, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) observou crescimento expressivo na procura por tratamentos e apoio psicológico por parte de jovens de 18 a 30 anos — especialmente mulheres.
O aumento nas prescrições de medicamentos psiquiátricos precisa ser analisado com cuidado. Antidepressivos e ansiolíticos são recursos valiosos e, em muitos casos, essenciais para restabelecer o equilíbrio neuroquímico e funcional do paciente. Mas especialistas alertam: o uso isolado, sem acompanhamento psicoterapêutico e mudanças no estilo de vida, tende a ter eficácia limitada e riscos associados, como dependência ou uso prolongado sem reavaliação clínica.
Segundo artigo da revista científica The Lancet Psychiatry, a combinação de medicamentos com psicoterapia proporciona resultados mais duradouros, especialmente nos quadros moderados a graves.
O desafio está em garantir acesso ao tratamento integral, com psicólogos, psiquiatras, suporte familiar e estratégias complementares — como atividade física, alimentação equilibrada, rotinas de sono e pausas conscientes no uso de tecnologia.
Falar sobre saúde mental deixou de ser tabu — e isso é um avanço incontestável. Mas é preciso ir além da medicalização: a juventude precisa ser escutada, acolhida e apoiada com políticas públicas, espaços de escuta nas escolas e ambientes de trabalho mais saudáveis.
Também é urgente fomentar o letramento emocional: aprender a nomear emoções, entender seus sinais e saber quando pedir ajuda. Essas competências, antes vistas como subjetivas, são hoje reconhecidas como habilidades fundamentais para a vida.
Para pais, educadores e gestores, o recado é claro: não minimizem o sofrimento dos jovens. Ansiedade, depressão e outras condições não são “frescura”, nem “falta de força de vontade”. São realidades que exigem empatia, conhecimento e ação.