Entenda o que é essa condição psicológica e descubra técnicas eficazes para superar a sensação de ser uma fraude
24/07/2025
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“Não sei como ainda não me demitiram. A qualquer momento vão descobrir que não sei o que estou fazendo. Estou aqui por pura sorte.” Se pensamentos como esses já passaram pela sua cabeça, você pode estar lidando com a síndrome do impostor, um fenômeno psicológico mais comum do que se imagina.
Essa condição afeta pessoas de todos os níveis profissionais e acadêmicos, desde estudantes universitários até executivos bem-sucedidos. A sensação persistente de ser uma fraude, mesmo diante de conquistas reais e reconhecimento, pode impactar significativamente a qualidade de vida e o bem-estar mental. A boa notícia é que existem estratégias eficazes para superar essa condição e desenvolver uma autoconfiança mais sólida e realista.
A síndrome do impostor foi identificada pela primeira vez em 1978 pelas psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes. Trata-se de uma condição psicológica onde indivíduos enfrentam dificuldades persistentes para internalizar e reconhecer suas próprias competências e sucessos. Quem experimenta essa síndrome atribui suas conquistas a fatores externos como sorte, timing ou ajuda de terceiros, em vez de reconhecer suas habilidades genuínas.
Conforme descrito pelo Dr. Gonzalo Ramirez, psicólogo clínico geral, em publicação no portal Tua Saúde, essa condição manifesta-se frequentemente entre indivíduos que alcançaram êxito significativo em suas carreiras ou estudos, mas que enfrentam dificuldades para internalizar esses sucessos. Essas pessoas experimentam uma ansiedade constante relacionada ao temor de que suas limitações sejam expostas publicamente.
É fundamental diferenciar a síndrome do impostor da insegurança ocasional que todos vivenciamos. Segundo o psicólogo Filipe Colombini, em artigo publicado no Portal Drauzio Varella, a distinção reside na intensidade e duração desses sentimentos. Na síndrome do impostor, o indivíduo fica tão dominado por essa autocrítica severa que desenvolve uma percepção distorcida de si mesmo, sendo incapaz de separar pensamentos negativos da realidade objetiva.
A síndrome do impostor revela-se através de padrões comportamentais e emocionais específicos. Indivíduos que enfrentam essa condição costumam exibir três ou mais das seguintes características:
O excesso de dedicação representa um dos indicadores mais claros. Pessoas com essa síndrome acreditam que devem investir esforços desproporcionais comparado aos colegas para validar suas realizações, cultivando um perfeccionismo que pode resultar em exaustão mental e física. Essa atitude nasce da convicção de possuírem conhecimento inferior aos demais, necessitando compensar essa percepção equivocada.
A tendência à autossabotagem manifesta-se através do receio persistente de que profissionais mais experientes irão expor suas supostas inadequações perante outros. Essa preocupação pode comprometer diretamente o rendimento e a qualidade das atividades realizadas, estabelecendo um padrão destrutivo onde o temor do insucesso efetivamente prejudica os resultados.
A resistência à exposição constitui outro padrão característico. Indivíduos com síndrome do impostor frequentemente evitam contextos onde possam ser julgados ou criticados, selecionando atividades e até carreiras baseadas naquelas onde permanecerão menos visíveis. Quando submetidos a avaliações, demonstram notável habilidade para minimizar suas realizações e descartar reconhecimentos recebidos.
A comparação sistemática com outros também define essa condição. O perfeccionismo exagerado e as exigências pessoais elevadas fazem com que o indivíduo se perceba constantemente como inferior ou menos competente que seus pares, provocando aflição e insatisfação duradouras. Adicionalmente, a compulsão por aprovação universal manifesta-se através de esforços contínuos para impressionar positivamente e conquistar validação, mesmo quando isso implica aceitar situações constrangedoras.
Esses padrões comportamentais frequentemente geram manifestações físicas e emocionais incluindo ansiedade, tensão, melancolia, desalento e potencialmente depressão. Vale destacar que, apesar de qualquer pessoa poder desenvolver essa síndrome, ela ocorre com maior frequência entre mulheres, pessoas não brancas, a comunidade LGBTQIAP+ e indivíduos inseridos em contextos acadêmicos ou profissionais extremamente competitivos.
Felizmente, existem abordagens validadas cientificamente que auxiliam na superação dessa condição. Profissionais da psicologia, incluindo as especialistas Dolors Liria, Mar Martínez Ricart e Isabel Aranda, consultadas pela BBC News, propõem seis metodologias essenciais.
A etapa inicial consiste em identificar e aceitar a existência do problema. Embora pareça elementar, muitos indivíduos não dedicam tempo suficiente para estabelecer conexão consigo mesmos e compreender suas experiências internas. Torna-se crucial reconhecer momentos em que você subestima suas capacidades, quando enfrenta dificuldades para celebrar conquistas ou quando questiona sua legitimidade em relação aos sucessos obtidos. Detectar essa narrativa interna crítica representa o ponto de partida para sua transformação.
A análise retrospectiva constitui uma ferramenta valiosa. Durante períodos de intensa angústia ou insegurança, procure recordar situações anteriores onde enfrentou desafios comparáveis. Provavelmente você experimentou receios similares, mas conseguiu progredir e alcançar resultados positivos. Desenvolver um “arquivo de crescimento pessoal” ou uma “cronologia de sucessos” pode ser extremamente benéfico. Documente suas realizações, projetos exitosos e retornos positivos recebidos. Este registro funcionará como evidência concreta de suas competências reais.
Valorizar cada realização, independentemente de sua magnitude, é essencial para reprogramar padrões mentais. Muitos indivíduos transitam imediatamente para o próximo objetivo sem conceder espaço para apreciar o que acabaram de conquistar. Dedique momentos para se conectar com a satisfação da realização, reconhecer o investimento feito e se congratular pelo resultado. Trabalhe simultaneamente a questão do merecimento, recordando que você possui valor intrínseco pelo simples fato de existir, independentemente de suas realizações profissionais.
Solicitar perspectivas externas pode revelar a discrepância entre sua autopercepção e como outros o percebem. Busque retorno ativo em seu ambiente de trabalho, registre elogios e reconhecimentos recebidos, e mantenha um arquivo dessas observações positivas. Frequentemente, a visão externa é significativamente mais realista e favorável que nossa autocrítica interna.
Calibrar expectativas também é fundamental. Se você enfrenta a síndrome do impostor, é provável que suas expectativas pessoais sejam excessivamente elevadas. Dedique-se a estabelecer objetivos atingíveis e reconheça que a perfeição é inalcançável. Aceitar que equívocos e falhas integram o processo de aprendizagem é vital para desenvolver autoconfiança mais equilibrada.
Finalmente, compartilhar suas experiências com pessoas confiáveis pode ser profundamente libertador. Frequentemente descobrimos que outros também vivenciaram ou vivenciam situações semelhantes, o que contribui para normalizar esses sentimentos e diminuir o isolamento que a síndrome pode provocar.
Embora as técnicas de autogerenciamento sejam valiosas, existem circunstâncias onde o suporte especializado torna-se indispensável. Se os sentimentos de inadequação estão comprometendo substancialmente sua vida pessoal ou profissional, provocando ansiedade severa, depressão ou impedindo que você aproveite oportunidades relevantes, é momento de consultar um psicólogo ou psiquiatra.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) demonstra eficácia particular no tratamento da síndrome do impostor. Esta metodologia auxilia na identificação e reestruturação de pensamentos negativos, no desenvolvimento de competências de enfrentamento e na exposição gradual a situações que anteriormente geravam ansiedade. O processo terapêutico também pode revelar se a síndrome constitui um problema isolado ou sintoma de outras condições, como transtornos ansiosos ou depressivos.
Vale ressaltar que procurar suporte especializado representa um ato de responsabilidade pessoal e inteligência emocional, não uma demonstração de vulnerabilidade. Um profissional qualificado pode disponibilizar recursos personalizados e orientação especializada para superar essa condição de maneira mais efetiva e sustentável.
Superar a síndrome do impostor constitui um processo progressivo que demanda paciência e autocompaixão. Lembre-se de que essa condição não determina sua identidade nem restringe seu potencial. Milhões de pessoas globalmente enfrentam desafios similares, e muitas conseguem desenvolver uma relação mais equilibrada consigo mesmas.
O percurso para uma autoconfiança autêntica envolve reconhecer suas realizações concretas, aceitar suas limitações humanas e compreender que o desenvolvimento ocorre através da experiência, incluindo sucessos e fracassos. Cada pequeno avanço em direção ao autoconhecimento e à autoaceitação representa uma conquista que merece reconhecimento.
Com as abordagens apropriadas e, quando necessário, suporte profissional, é possível transformar a voz crítica interna em uma parceira que o impulsiona adiante, em vez de uma força que o imobiliza. Sua trajetória de autodescoberta e crescimento pessoal é singular e valiosa, independentemente do ritmo ou dos desafios encontrados durante o percurso.