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Ultraprocessados: Riscos, Polêmicas e Orientações para uma Alimentação Saudável

A recomendação médica no Brasil é limitar ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados, priorizando uma alimentação baseada em alimentos frescos e minimamente processados, como frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras

8/11/2024

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Quase diariamente surgem novos estudos alertando sobre os riscos dos alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, carnes processadas, cereais matinais, lanches, refeições congeladas e iogurtes saborizados. Essas comidas têm sido associadas a problemas de saúde como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardíacas, problemas intestinais e depressão. Contudo, um grupo reunindo os principais cientistas de nutrição dos EUA concluiu que não há evidências suficientes para desaconselhar os ultraprocessados, conclusão essa que deve gerar muita polêmica entre especialistas.

Consumo de ultraprocessados no Brasil

Diversos estudos no Brasil têm investigado o consumo de alimentos ultraprocessados e seus impactos na saúde da população. Uma pesquisa publicada em 2023 analisou dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) de 2008–2009 e 2017–2018, revelando que os alimentos ultraprocessados representaram 19,7% das calorias consumidas em 2017–2018. O estudo também identificou que o consumo desses alimentos aumentou 1,02 pontos percentuais entre os períodos analisados, com crescimento mais acentuado entre homens, pessoas negras, indígenas, residentes em áreas rurais e nas regiões Norte e Nordeste.

Outro estudo, utilizando dados do Vigitel entre 2019 e 2021, descreveu o perfil sociodemográfico e comportamental dos consumidores de alimentos ultraprocessados no Brasil. A pesquisa encontrou associações entre o consumo desses alimentos e fatores como sexo masculino, faixa etária de 18 a 29 anos, autodeclaração de raça preta/parda e estado civil de indivíduos sem companheiros. Além disso, fumantes, consumidores de álcool e aqueles que utilizavam dispositivos eletrônicos por mais de cinco horas diárias apresentaram maior prevalência de consumo.

Esses estudos destacam a crescente presença de alimentos ultraprocessados na dieta dos brasileiros e suas possíveis implicações para a saúde pública, reforçando a necessidade de políticas e intervenções que promovam hábitos alimentares mais saudáveis.

Polêmica à vista

Apesar da maioria dos profissionais de saúde e nutrição fazerem severas críticas aos ultraprocessados, recentemente, um comitê com 20 dos principais cientistas de nutrição dos EUA se reuniu para revisar as Diretrizes Alimentares estadunidenses, mas concluiu que não há evidências suficientes para desaconselhar os ultraprocessados. Restringir esses alimentos poderia impactar fortemente a alimentação americana, mas a decisão final sobre as diretrizes será do Departamento de Agricultura e do Departamento de Saúde dos EUA, com previsão de lançamento para 2025.

Por que o comitê não fez uma recomendação? O comitê revisou 41 estudos e encontrou uma ligação entre ultraprocessados e obesidade, mas apontou limitações nas pesquisas: muitos estudos foram feitos fora dos EUA (onde os ultraprocessados podem ter composições diferentes) ou usaram dados antigos, e a maioria era observacional, o que não prova causa e efeito. Assim, o comitê preferiu continuar recomendando dietas ricas em vegetais, frutas, grãos integrais e proteínas magras, contudo, sem deixar de recomendar o consumo limitado de carnes processadas e bebidas adoçadas.

Frustração de outros especialistas Alguns especialistas, como a professora norte-americana Marion Nestle e Dariush Mozaffarian, cardiologista e diretor do “Food is Medicine Institute na Universidade Tufts”, acreditam que o comitê foi muito rigoroso e excluiu estudos importantes. Mozaffarian argumenta que os alimentos ultraprocessados, especialmente os ricos em carboidratos refinados, açúcares e sódio, estão fortemente associados a problemas de saúde. Segundo eles, a falta de diretrizes é uma oportunidade perdida para melhorar a saúde, especialmente em programas federais de nutrição que atendem milhões de americanos.

Desafios na formulação de diretrizes Os estudos científicos ainda estão evoluindo e fazer recomendações sobre ultraprocessados é desafiador, afirma a professora estadunidense Maya Vadiveloo. Alguns ultraprocessados, como certos cereais e iogurtes, poderiam até ter benefícios que justifiquem seu consumo. Porém, para outros especialistas, um posicionamento oficial nas Diretrizes Alimentares estadunidenses é necessária mesmo com ciência incompleta. Segundo Jerold Mande, da Universidade de Harvard, a falta de financiamento em pesquisas de nutrição dificulta que o comitê faça recomendações sólidas, enquanto a indústria alimentícia não enfrenta tantas restrições para comercializar esses produtos.

Posicionamento no Brasil

No Brasil, profissionais de saúde, incluindo médicos e nutricionistas, orientam a população a evitar o consumo de alimentos ultraprocessados devido aos seus impactos negativos na saúde. O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, recomenda que se prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias ao invés de alimentos ultraprocessados.

“Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas com ingredientes extraídos de alimentos ou sintetizados em laboratórios, contendo pouco ou nenhum alimento inteiro. Exemplos incluem refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo e embutidos. O consumo regular desses alimentos tem sido ligado a um aumento no risco de obesidade, doenças do coração, diabetes tipo 2 e diversas outras condições crônicas.”, alerta o Ministério da Saúde.

Portanto, a recomendação médica no Brasil é limitar ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados, priorizando uma alimentação baseada em alimentos frescos e minimamente processados, como frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras. Essa abordagem visa promover uma dieta mais saudável e equilibrada, reduzindo os riscos associados às doenças crônicas não transmissíveis.

Fontes:
The New York Times
Scielo Saúde Pública
Repositório UFSC
Ministério da Saúde, Governo Federal do Brasil