Esqueça o "sem dor, sem ganho". A ciência mostra que o segredo para uma rotina de exercícios consistente está em encontrar alegria, autonomia e bem-estar no processo.
3/09/2025
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Começar uma atividade física é uma resolução comum, mas transformá-la em um hábito consistente é um desafio para muitos. A imagem do exercício como um sacrifício, resumida na famosa frase “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho), muitas vezes mais afasta do que incentiva. E se o segredo para manter o corpo em movimento não estiver na dor, mas no prazer? A ciência do comportamento e a neurociência têm revelado que a chave para um estilo de vida ativo e duradouro está em tornar a jornada prazerosa e significativa.
Por décadas, a cultura fitness pregou que o esforço deveria ser sinônimo de sofrimento. No entanto, pesquisadores como Felipe Barreto Schuch, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), alertam que essa associação é nociva. Em um painel no Congress on Brain, Behavior and Emotions, Schuch sugeriu que um lema mais eficaz seria “no fun, no gain” (sem diversão, sem ganho). Associar o exercício a uma obrigação ou a uma experiência negativa cria uma barreira psicológica difícil de transpor.
Essa ideia é reforçada pela Teoria da Autodeterminação (TAD), um dos modelos mais importantes da psicologia da motivação. Segundo a TAD, para que um comportamento se torne intrinsecamente motivado – ou seja, feito pelo prazer da atividade em si –, três necessidades psicológicas básicas precisam ser satisfeitas: autonomia, competência e relacionamento.
Impor um exercício que você detesta, em um ambiente que não o agrada, viola diretamente essas três necessidades, tornando a adesão quase impossível a longo prazo.
A formação de um hábito é um processo neurológico. Quando repetimos um comportamento em um determinado contexto e recebemos uma recompensa por ele, nosso cérebro libera dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à motivação. Essa liberação de dopamina fortalece as conexões neurais relacionadas àquela ação, tornando-a mais automática com o tempo. É o que explica a psicóloga social Wendy Wood, da Universidade do Sul da Califórnia, uma das maiores especialistas em hábitos do mundo.
Se a única “recompensa” do seu exercício é a dor ou o alívio por ter acabado, o cérebro não tem motivos para querer repetir a experiência. Por outro lado, se a atividade for genuinamente agradável, a dopamina cria um ciclo de reforço positivo. A recompensa não precisa ser externa; pode ser o sentimento de orgulho, a energia renovada após a prática ou simplesmente a diversão do momento.
Transformar a atividade física em um hábito prazeroso é um processo de autoconhecimento e experimentação. Aqui estão algumas estratégias baseadas na ciência para começar:
Abandonar a mentalidade do “tudo ou nada” é fundamental. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 150 minutos de atividade moderada por semana, mas estudos mostram que até metade desse tempo já traz benefícios significativos para a saúde mental, incluindo a redução do risco de depressão. Fazer algo é sempre melhor do que não fazer nada.
Como explica Thiago Matias, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o movimento é inerente à vida. Trata-se de sentir o corpo, se permitir experimentar e se conectar consigo mesmo e com o mundo. A jornada para uma vida mais ativa não precisa ser uma batalha. Ao focar no prazer, na autonomia e no bem-estar, você permite que seu corpo e sua mente redescubram a alegria natural do movimento, transformando a atividade física não em uma obrigação, mas em uma parte essencial e prazerosa da sua vida.