Descubra como notas, ritmos e harmonias podem transformar o seu dia a dia, promovendo bem-estar, cura e uma profunda conexão consigo mesmo.
20/09/2025
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É uma sensação que ocorre quando você coloca os fones de ouvido e a primeira nota de uma canção especial toca. O mundo ao redor parece desacelerar, a respiração se torna mais profunda e, de repente, você não está mais apenas ouvindo música – você está vivenciando uma experiência transformadora. Para mim, essa descoberta mudou completamente a forma como encaro os desafios do cotidiano. A música deixou de ser apenas entretenimento e se tornou minha aliada mais poderosa no cuidado com a saúde mental e o bem-estar.
Minha história com a música não é única, mas é profundamente pessoal. Ela ecoa em milhares de outras vidas que, de forma intuitiva ou orientada, descobriram o poder curativo das melodias. Não se trata apenas de ouvir uma canção para relaxar; é sobre a construção de uma relação íntima e intencional com o som, permitindo que ele atue em nossas emoções, memórias e até mesmo em nossa fisiologia.

O que eu sentia de forma empírica, a ciência tem se dedicado a comprovar. A musicoterapia, um campo que une arte e saúde, demonstra como a música pode ser um agente de transformação. Pesquisas indicam que a música ativa diversas áreas do cérebro simultaneamente, incluindo o hipocampo, centro de nossas memórias, e as áreas responsáveis pela comunicação. Um estudo fascinante publicado em 2014 revelou que quando músicos de jazz improvisam juntos, seus cérebros exibem uma atividade neural muito semelhante à de uma conversa verbal, o que reforça o potencial da música para aprimorar nossas habilidades de comunicação e expressão [1].
Essa complexa atuação cerebral explica por que a música é tão eficaz em diversos contextos terapêuticos. Conforme um artigo da Harvard Health Publishing, intervenções musicais podem gerar melhorias significativas na saúde mental e na qualidade de vida psicológica [2]. A música tem a capacidade de modular nosso estado de espírito, reduzir a ansiedade e até mesmo alterar nossa percepção da dor.

Incorporar a música como terapia no dia a dia não exige conhecimento técnico aprofundado. Trata-se de uma prática de autocuidado acessível a todos. O primeiro passo é a escuta ativa e consciente. Em vez de deixar a música como ruído de fundo, reserve momentos para realmente mergulhar nela. Pode ser durante o café da manhã, no trajeto para o trabalho ou antes de dormir.
Uma técnica interessante, mencionada por especialistas de Harvard, é o “princípio iso”. Ele consiste em começar com músicas que espelham seu estado de humor atual e, gradualmente, transitar para canções que o levem ao estado desejado. Se você está se sentindo para baixo, pode começar com uma melodia mais melancólica e, aos poucos, introduzir ritmos mais alegres. Essa transição suave ajuda o sistema nervoso a se regular de forma natural.
Outra prática poderosa é a criação de playlists temáticas. Tenho uma para momentos de foco e trabalho, com músicas instrumentais; outra para aliviar o estresse, com sons da natureza; e uma para extravasar e celebrar, com ritmos dançantes. Essa organização me permite ter sempre à mão a “medicação” sonora certa para cada momento.

A prova mais tocante do poder da música vem das histórias reais de transformação. Como a de Rafael Henrique de Melo, um homem de 33 anos que, em meio a uma profunda depressão, reencontrou na música a força para recomeçar. Usuário do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), ele conta que a música sempre esteve em sua vida, mas a doença o fez parar. “Sabia que a música tinha poder de cura, e isso me assustava”, relatou em uma matéria do portal Zatti Saúde [3]. Foi na oficina de música do CAPS que ele redescobriu sua voz e até começou a compor, transformando sua dor em arte.
Essa capacidade de expressão não-verbal é um dos maiores trunfos da música. Quando as palavras nos faltam, uma melodia, um ritmo ou a vibração de um instrumento podem falar por nós. Tocar um instrumento, mesmo que de forma despretensiosa, engaja o cérebro de maneira integral, promovendo a concentração e abrindo canais para a expressão de sentimentos reprimidos.

Minha jornada com a música como terapia é um convite para que você descubra a sua. Não existe uma fórmula única ou uma playlist universalmente curativa. A beleza está justamente na personalização dessa experiência. Permita-se explorar diferentes gêneros, artistas e ritmos. Cante no chuveiro, tamborile os dedos na mesa, aprenda os primeiros acordes de um violão. Deixe que a música seja sua confidente, sua motivadora e seu bálsamo.
Como disse a musicoterapeuta Sharon Graham, ao compartilhar a história de um paciente em fim de vida, “a música de nossas vidas permanece muito depois que nossos corpos partem; o amor contido nela é eterno e durará além de nossa dor” [4]. Que possamos, então, compor e viver nossas sinfonias diárias com mais intenção, mais leveza e mais cura. A terapia pode estar a apenas um play de distância.