Cansadas do excesso e da busca incessante por mais, pessoas encontram no minimalismo um caminho para uma vida com mais propósito, liberdade e bem-estar. Conheça histórias e dicas para iniciar sua própria jornada.
25/10/2025
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O impulso de adquirir algo novo, a crença de que a próxima compra trará felicidade ou a necessidade de projetar uma vida perfeita nas redes sociais. Esses padrões, profundamente enraizados na sociedade atual, alimentam um ciclo de consumo que, paradoxalmente, deixa muitas pessoas vazias por dentro. Diante desse cenário, uma filosofia de vida ganha cada vez mais adeptos: o minimalismo. Longe de ser apenas uma tendência estética, trata-se de um convite para repensar prioridades e descobrir o que realmente tem valor.
A decisão de abraçar o minimalismo costuma nascer de um desconforto silencioso. Mesmo com acesso a bens materiais, carros, apartamentos e salários confortáveis, muitas pessoas percebem que algo essencial está ausente. Foi exatamente o que vivenciaram os americanos Joshua Millburn e Ryan Nicodemus. Aos 30 anos, apesar do sucesso profissional, ambos se sentiam profundamente infelizes. A resposta veio na forma de uma ruptura: abandonaram praticamente todas as suas posses, deixaram seus empregos e recomeçaram em outra cidade. Dessa experiência nasceu o site “The Minimalists” e o documentário “Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes”, hoje disponível na Netflix.
Esse movimento de simplificação não é exclusivo de outros países. No Brasil, com 62,1 milhões de pessoas endividadas, conforme dados do Serviço de Proteção ao Crédito, e uma produção anual de 71,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos, repensar o consumo se torna uma necessidade urgente. Segundo a professora de psicologia do UniCEUB, Suely Guimarães, grande parte das aquisições é impulsionada pelo receio de julgamentos alheios, transformando compras em tentativas de validação social que frequentemente resultam em dívidas.

As narrativas de quem adota o minimalismo evidenciam ganhos que transcendem a simples organização física ou economia financeira. O psicólogo Mark Travers, Ph.D. formado pela Cornell University, destaca que essa filosofia abre caminhos para maior autonomia pessoal, senso de competência e lucidez mental. Conforme estudo divulgado no Journal of Applied Positive Psychology, o minimalismo representa uma abordagem consciente da existência, na qual vivências significativas superam a acumulação de objetos.
Travers enumera diversos ganhos psicológicos dessa prática. A autonomia surge quando nos libertamos das imposições consumistas e passamos a viver alinhados aos nossos próprios princípios. A organização de espaços simplificados proporciona maior domínio sobre o ambiente, reduzindo tensões e preocupações. Ambientes descomplicados também favorecem a clareza de pensamento, eliminando o ruído mental causado pela desordem.
A simplicidade voluntária ainda estimula a presença consciente no momento presente, ampliando nossa percepção sobre aquilo que realmente valorizamos e despertando gratidão pelas pequenas alegrias cotidianas. Como resultado final, quem pratica essa filosofia frequentemente relata sentimentos mais intensos de contentamento, serenidade e plenitude.
A psicóloga Alessandra Araújo complementa que os impactos do minimalismo na saúde emocional são substanciais. Segundo ela, ao adotar essa postura, redirecionamos nossa atenção e energia para aquilo que genuinamente nos preenche: momentos compartilhados, vínculos afetivos e conquistas alinhadas aos nossos valores mais profundos, abandonando a ilusão de que objetos ou reconhecimento externo trarão felicidade duradoura.

Dar os primeiros passos rumo ao minimalismo não demanda transformações radicais e imediatas. Alessandra Araújo recomenda iniciar com ajustes graduais: reservar momentos para introspecção e autoconhecimento, liberar-se de itens sem utilidade, reduzir compromissos desnecessários e priorizar sempre a qualidade sobre a quantidade.
Antes de qualquer nova aquisição, questione-se: isso é realmente necessário? Venho considerando essa compra há pelo menos quinze dias? Já possuo algo que cumpre a mesma função? Essa decisão me aproxima ou me distancia dos meus propósitos de vida? Perguntas simples como essas podem inaugurar uma relação mais consciente com o consumo e uma existência mais leve.
Aprender a viver com menos é uma jornada contínua de autodescoberta e decisões cotidianas. Não significa renunciar aos prazeres, mas sim criar espaço — físico, mental e emocional — para aquilo que genuinamente importa. É reencontrar a alegria nas vivências, nos afetos e na simplicidade de existir. Uma trajetória que, conforme demonstram inúmeras histórias, pode conduzir a uma vida não apenas com menos posses, mas repleta de leveza e propósito.